sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Quando o design é usado para favorecer o Estado...

Recentemente um episódio ocorrido no jornal egípcio Al-Ahram me chamou a atenção para a velha discussão da ética no design e o quanto o poder pode influenciar nas midias de um pais.

A foto ao lado saiu no maior jornal do Egito e mostra os líderes do Oriente Médio – o presidente egípcio Hosni Mubarak, o primeiro-ministro de Israel Benjamin Netanyahu, o presidente palestino Mahmoud Abbas e o rei Adbullah da Jordânia, junto do presidente norte americano Barack Obama, seguindo para a Sala Leste da Casa Branca, durante uma rodada de conversas em busca de paz.

O problema é que essa foto foi tirada originalmente por Pablo Martinez Monsivais da Associated Press e mostra algo um pouco diferente do que o jornal egípcio apresenta. Na publicação, o presidente egípcio Hosni Mubarak aparece a frente de todos, inclusive do próprio Barack Obama (o "dono" da casa"), levando-os para a sala onde se daria a reunião. Porém, na foto original o presidente do Egito se encontra no fundo, a esquerda, seguindo o grupo liderado por Obama (veja a imagem original no fim do post). Como o Al-Ahram é um jornal estatal, eles acharam melhor não colocar o seu líder no fim, mas sim no inicio da fila, tendo assim mais destaque do que no original.

A questão é: até onde o Estado deve interferir na mídia e até que ponto o designer deve permitir que o seu trabalho seja usado para a promoção de um governo e/ou política de forma a manipular a opinião publica?

Provavelmente você deve estar se perguntando o que tem demais em colocar o "carinha" na frente de todo mundo? Pode não aparentar uma grande importância, mas abre brechas para modificações maiores, como eliminação de pessoas da foto (imagine o presidente e alguém da oposição em um evento beneficente. Imagine agora só o presidente aparecendo na imagem, dando a impressão de que somente ele se preocupa com os menos favorecidos) ou até mesmo para simular uma agressão, ou algo mais chocante (vide a imagem ao lado).

E qual o nosso papel nisso tudo? Temos autonomia para se negar a fazer uma modificação dessas? No caso do jornal egípcio, isso é impossível, uma vez que o mesmo é uma publicação vinculada ao Estado. Mas quando se está em um veiculo livre, até onde nossas competências podem ser exploradas em beneficio de um e/ou detrimento de outro? São pequenos detalhes como esse que as vezes são o empurrão para se debater questões maiores e sobre o quanto um designer está na mão de quem solicita os seus serviços.

foto original (acima) e foto modificada pelo jornal

Por Antônio Luiz Cunha, que hoje não conseguiu pensar em nenhuma frase legal para colocar aqui.


ps: perdoem os erros de português que possam aparecer aqui. Faz tempo que não escrevo nada em grandes quantidades  e ainda estou me reacostumando a se expressar dentro da norma culta.


Nenhum comentário:

Postar um comentário